AOS 18 ANOS, JOVEM DA ZONA RURAL DE CANUDOS-BA PASSA EM MEDICINA NA UNIVASF PELO SISU

31/01/2018 21:37

"Querido Deus! Nós dois sabemos o quanto esse sonho significa em minha vida. Arrisco a dizer que o Senhor com certeza sabe mais do que eu. Tentar definir o que estou sentindo é o que faço agora, não sei se é felicidade ou se é gratidão, mas, talvez, ambas palavras sejam sinônimas, porque, ao mesmo tempo, que eu me sinto feliz, também sinto uma imensidão de gratidão invadir o meu ser e me levar para outro espaço e outra dimensão, que está um pouco longe do meu alcance agora."

São palavras de Alane Mota dos Santos, em uma das suas redes sociais, a jovem de 18 anos, está realizando um sonho de criança: ela vai começar este ano, a cursar Medicina na Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

De origem humilde, o jovem comemora: "fui a primeiro da família a ser aprovado em faculdade pública. É uma alegria sem tamanho para mim e para os meus pais".

Moradora da Fazenda Lagoa do Mota, zona rural de Canudos, Agreste baiano, a jovem conquistou uma vaga no curso através de muita dedicação e esforço pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). 

Alane revela que teve  a honra de ter professores ótimos, os quais muitas vezes foram mais do que lecionadores e tornaram- se amigos; a preocupação de alguns ultrapassou o limite da sala de aula.

"O Senhor me concedeu a melhor professora de biologia, a qual me apresentou o " universo celular ", mas não só isso, ela também me ensinou que ninguém é tão bom que não possa melhorar e que se há um sonho pulsando em seu coração você deve com todas as suas forças conquistá - lo." Pontua Alane. 

Diante as palavras de gratidão,  porém,  referidas ao sujeito oculto, nós do Portal Comunicação em Pauta, pesquisamos e chegamos até a professora de biologia,  Wilciane Soares.

Orgulhosa em participar e por poder contribuir com a formação da jovem sonhadora, a professora Wilciane reintera que Alane "VENCEU", que essa aprovação é resultado de seus esforços e dedicação durante todo o percurso em que ela traçou para chegar em uma Universidade Federal!

"Você é a prova que ainda existe alunos e alunas em escola pública compromissados com os estudos.  Força, foco e fé você teve até aqui. Eu e todos os professores estamos orgulhosos por você". Revela com muita gratidão a professora de Biologia. 

A jovem é a primeira da família a cursar o ensino superior na rede pública,  porém,  sua tia Ana Karla se formou em pedagogia em universidade particular e os dois irmãos cursam escola técnica – os pais só estudaram até o ensino fundamental.

Ao falar sobre o que a família acha de todo seu esforço ter sido recompensado com a entrada na Univasf, a jovem diz que está não só realizando o seu sonho de estudar, mas também o de seus pais, e sua avó que não tiveram a mesma oportunidade.

"Eu estou realizando um sonho que eles não puderam realizar. Minha mãe, por exemplo, teve que parar de estudar cedo para trabalhar e sustentar a casa. Realmente, eles colocaram todas as fichas nos filhos e graças a Deus estou podendo realizar tudo que eles não puderam e que eu também sonho para mim. Minha mãe chora até hoje."

Durante o ensino médio já me dedicava aos estudos, Alane conta que passou a estudar por conta, em casa, para se aprofundar em alguns conteúdos. "Após as aulas no Colégio Estadual  Luís Cabral, demora quase duas horas para chegar na minha casa, chegava cansada e com muito sono, mas sempre motivada pelo sonho de me tornar médica, quando dormia devido o cansaço incontrolável,  me sentia culpada, então que estudava até (01 hora da manhã) para compensar o tempo perdido, fui atrás das matérias em que eu tinha bastante dificuldade, porque minha base nelas era muito fraca, não pelos professores, esses sempre me ajudaram, mas devido aos números de greves que os professores e os motoristas dos ônibus escolares realizavam reivindicando melhorias, uma vez que a prefeitura não repassava seus salários. Assim, quando recomeçaram as aulas, consegui achar um ritmo bom de estudos".

Mesmo diante da crise na educação brasileira e das dificuldades que teve de passar, Alane Mota afirma que vale a pena toda a dedicação e alerta que todas as oportunidades devem ser agarradas, pois é possível conseguir conquistar pouco a pouco um lugar ao sol. 

"A dica que eu dou é que se esforcem, sempre dê o seu melhor em tudo e agarrem todas as oportunidades que vocês tiverem, pois, tudo o que conquistei, eu não fiz sozinha, eu tive muita ajuda. Mesmo morando num lugar sem acesso a energia elétrica, "Eu" tive que criar minhas próprias oportunidades, que nem todas as pessoas de lugares pobres como eu têm, só que eu me agarrei a elas, diferente do que a maioria faz e dei o meu melhor e assim outras oportunidades apareceram."

Para futura ingressante do curso de Medicina, não importa se o outro faz cursinho, se o outro desfruta dos melhores materiais, se possue dinheiro para sair todos os finais de semana ou se ganha o melhor salário, pois no final de tudo o que realmente conta é fazer o nosso melhor com o que temos e onde estamos. Segundo ela todos são capazes de entender isso. 

"Meu Deus, nenhuma palavra vai poder descrever o que estou sentindo nesse momento. Nenhum texto vai poder expressar o que passar em Medicina significa para mim ou o tamanho desse sonho que habita em meu ser. Por isso, o meu maior desejo é que todas as pessoas que contribuíram para que tudo isso começasse a se realizar saibam que sou imensamente grata por tudo e, em razão disso, não irei citar nenhum nome, pois não quero correr o risco de me esquecer de alguém." 



 

Assim como no inicio, Alane Mota, finaliza a entrevista com o jornalista Márcio Malta agradecendo não somente a todos que de alguma forma direta ou indiretamente contribuíram para sua formação até o presente momento mas também ao criador do céu e da terra.

"Ao meu melhor amigo, Deus." Finaliza a futura estudante de Medicina da UNIVASF.


 

Fonte: Canudos Acontece

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