CUIDADOS COM A SAÚDE: CÂNCER DE MAMA AOS 33

17/10/2015 22:08

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Meu nome é Thalita Cáceres, sou nutricionista, proprietária da loja Mundo Verde em Lauro de Freitas. 

Já começa por aí: como assim, nutricionista, jovem, vivendo com produtos naturais e teve câncer? Pois é, contra tudo e contra todos, aos 33 anos, em janeiro de 2014, descobri um pequeno nódulo, na mama direita, menor que um caroço de lentilha. Como estava em fase pré-menstrual, achei que fosse passar depois do ciclo, mas não passou. Ele começou a crescer, coçar e doer. Como de vez em quando dava umas fisgadas, percebi que poderia ser sério. Fui à minha ginecologista fazer meus exames de rotina e ela fez um ultrassom. Me pediu logo uma mamografia e me encaminhou para uma mastologista, que me pediu uma core biopsy. 

No dia da biópsia, com o tumor medindo 2,5cm, fui ao hospital, morrendo de medo. Imagine: na sala de espera, sem ter pra onde correr, passava um filme da sessão da tarde sobre uma mulher que acabara de descobrir um câncer de mama e sofreu muito, foi horrível. Fui fazer o exame tensa, triste. Tremenda falta de sensibilidade do povo da clínica, mas tudo bem. 

Nessa época, minha sogra se antecipou e, atendendo à recomendação de um médico amigo, me indicou que eu fosse para o hospital Irmã Dulce para iniciar o tratamento pelo SUS. Não poderia ter recebido auxílio melhor. Já no Irmã Dulce, o mastologista de lá agendou uma cirurgia para 2 semanas, mesmo antes de receber a biópsia e disse que faríamos a cirurgia independente do resultado. Isso foi na metade de março e o tumor já media 5,5cm.

Quando peguei o resultado da biópsia, não abri, fui buscar um outro resultado de exame que seria já para a cirurgia e resolvi abrir, ali na sala de espera do laboratório. Carcinoma ductal invasivo. Perdi o chão, parecia que estava em uma cena de filme, onde tudo fica branco, você não ouve nada, as pessoas somem, você parece estar flutuando.

Peguei o outro resultado que estava esperando, fui com tudo isso para casa e fui recebida por minha família. Chorei, bastante, sentia medo, raiva, dúvida, revolta, e me permiti receber todos esses sentimentos, indo contra todos que me diziam “não chore”! Precisava chorar. Precisei de um tempo comigo mesma e de repente, tão rapidamente quanto veio o choro, veio uma sensação de força, de coragem e disse pra mim mesma: “tá bom, já chorou? Agora vamos enfrentar!”.

Quando fui para a oncologista, ela me disse que eu começaria a quimioterapia no dia seguinte, dia 8 de abril (dia mundial de combate ao câncer), seriam 8 sessões, a cada 15 dias, 4 da vermelhinha e 4 da branca. Quando ela me entregou um manual com tudo o que eu ia sentir, o que podia acontecer e o que ia acontecer, outro choque. Porque até então, você sabe que tem a doença, mas não sente nada, exatamente. Quando você se vê diante de todos esses sintomas por vir e da perda do cabelo, acho que cai a ficha: eu tenho câncer. Então, voltei pra casa, chorei mais um pouquinho e no dia seguinte, bem cedo, fui fazer exame de sangue, pegar o resultado em seguida, mostrar pra médica e já ir para a quimioterapia. Já estava mais tranquila, tirei foto de tudo, mostrei pra família como era, e assim fiz as outras sessões. Perdi o cabelo só depois da segunda sessão e tive diversos sintomas. Não vomitei nenhuma vez, mas tive dores de estômago, aftas, prisão de ventre, que passavam à medida que a droga ia sendo eliminada. Quando tomava outra dose, começava de novo e ia controlando. 

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Na quimioterapia branca, senti dores no corpo, calafrios, mas também controlava com remédio. Meu tipo de tumor era um triplo negativo, então não precisei tomar a “vacina” para quando é Her2 positivo, e não vou precisar tomar medicação por 5 anos, pois ele não era dependente de hormônios. Apesar disso, era um tumor agressivo, de crescimento rápido, mas que tinha boa resposta à quimioterapia. E como eu apostava, ele sumiu na 6ª sessão. Quando fui marcar o local cirúrgico, não havia mais nada. Fiz uma quadrantectotmia em 5 de setembro, tirei o linfonodo sentinela por precaução, fiquei apenas 3 dias com o dreno e depois fui começar a radioterapia em dezembro, fiz 30 sessões. Realmente, perto da quimio, a radio é diversão, mas o chato é ter que ir ao hospital todos os dias. 

Busquei muitas informações confiáveis, li muito sobre a alimentação no câncer de mama, descobri muitas coisas interessantes e mudei muito meus hábitos alimentares, em função da doença. Como estava terminando minha pós-graduação em gastronomia funcional, escrevi minha monografia baseada na minha experiência e fiz um manual de alimentação funcional durante o tratamento de câncer de mama. Foi uma experiência e tanto!

Portanto, para mim, o ano de 2014, foi o melhor e o pior ano da minha vida. Pior por tudo o que tive que enfrentar, mas o melhor, pois foi o ano em que eu renasci, descobri que sou mais forte do que eu pensava, percebi que me adapto mesmo às situações onde pensava que pudesse sentir mais medo e percebi o quanto as pessoas são capazes de doar amor incondicional, mesmo a uma pessoa desconhecida.  

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O meu milagre maior não foi apenas ter me livrado da doença. Meu milagre acontece todos os dias, em saber que posso contar com pessoas tão maravilhosas em minha vida! Seria impossível listar o nome de todas as pessoas que estiveram ao meu lado, mas cada um deles, até mesmo pessoas que não conheço, me dedicaram um amor que não há como explicar, e eu atribuo também a isso o sucesso deste tratamento.

O câncer é uma doença muito agressiva, mas o de mama, em especial, toca em um ponto muito vulnerável da mulher, pois mexe com a sua vaidade, e com o símbolo de sua feminilidade e importância como mulher de alimentar uma outra vida. Ainda temos muito o que aprender. Percebi que muitas pessoas, motivadas pelo (pré) conceito de que o câncer é sempre mortal, me olhavam com um olhar de sentença de morte ao me verem de lenço e isso não ajuda em nada. Precisamos de atitudes de motivação, afinal, quem está passando por isso, tem que comemorar cada dia, a batalha que se está enfrentando. Meu conselho a quem tiver alguém na família ou conhecida passando por isso, ofereça amor, apoio, força, pois é disso que precisamos. Apesar da distância de tantas pessoas que me apoiaram, não me senti sozinha, e isso me ajudou muito, além de manter um diário com todas as minhas experiências físicas e emocionais. 

Se conecte com o seu corpo, ele lhe dá sinais o tempo todo, se conecte com seu lado espiritual, seja através de uma religião, crença, ou através da meditação, ou de um simples bate papo consigo mesma. Isso faz muita diferença.

 

Para finalizar, gostaria de citar uma frase de Rubem Alves, que recebi no início do tratamento, quase como uma luz: “Não haverá borboleta se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”.

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Esta foi a minha metamorfose. 

 

Um grande beijo!

Thalita

 

 

Formosa News, a informação a todo o momento. Fonte: Aratu Online.

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