VISITA PASTORAL CHEGA À VELHA CANUDOS; SE CRUZAM AMIÚDE: FÉ, HISTÓRIA E LITERATURA

11/03/2017 20:29

Velha Canudos, estátua de Antônio Conselheiro, ao fundo capela de São Pedro.  

 

O bispo dom Guido Zendron realiza até o próximo dia 22 de março, a 13º etapa da Visita Pastoral, iniciada em meados de 2014, no município de Macururé-BA, na paróquia de Senhor do Bonfim, Forania V.

Depois de muito chão percorrido, eis que chegamos ao município de Canudos-BA, lembrando que a diocese de Paulo Afonso tem a dimensão do Estado de Sergipe, e se divide em 23 paróquias,

Chegada para celebração na escola do Poço da Pedra, fazenda Umbuzeirão, área rural de Canudos-BA.  

 

No dia 8 de março, depois de visitar algumas comunidades rurais da Paróquia de Santo Antônio, sempre na companhia de Pe. Alberto, dom Guido celebrou na fazenda Umbuzeirão, na Queimada do Jerônimo – uma das comunidades que não possui energia elétrica,  até então, os fiéis só tinham visto um bispo pela televisão, graças a energia solar.

 

Celebração na capela de São Pedro, banda de pífano e muita animação com Pe. Alberto.  

 

É importante dizer que, mesmo nestas comunidades mais longínquas, as famílias não passam sede, a prefeitura e o Exército chegam com água potável, e o sustento vem da caprinocultura. Ao contrário de outras regiões, em Canudos, se pode contar as reis que encontramos pelo caminho. O bode sim, reina absoluto.

 

Pe. Alberto, à caráter.  

 

À tardinha, enfim, a Velha Canudos. O cenário de ‘Os Sertões’ uma das obras mais importantes da literatura Brasileira, do correspondente de guerra do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, Euclides da Cunha. Nela se verifica o pré-modernismo, desenvolvido nas décadas seguintes e celebrado definitivamente na Semana de Arte Moderna de 1922.

 

Museu da guerra de Canudos com os utensílios e as armas usadas no Belo Monte.  

 

Para a nossa reportagem, nos valemos de Pe. Alberto, que além de pastor desse povo sertanejo e forte, como cunhou Euclides, é também um estudioso da Guerra de Canudos, e nos deu o seguinte panorama:  

As tropas federais sofreram três grandes derrotas, até que o Estado promoveu uma das maiores carnificinas da história brasileira.  

 

“Quando Pe. Alexandre escreve que ‘Só Deus é grande’, ele parte do pressuposto que a experiência de Canudos, foi uma experiência de fé. Foi essa a motivação. Ainda dentro do contexto que o mundo vivia: do iluminismo e da revolução francesa, aqui no Brasil o início da República, e suas contradições que geraram tanta miséria pelas altas cobranças de impostos, e também a grande seca, então Conselheiro quando põe o pé na estrada com sua gente – cerca de 700 pessoas -, tem isto na cabeça e no coração. Por estudar estas questões, e sofrer influência de Pe. Ibiapina e Pe. Cícero – grandes padres diocesanos do Nordeste, Conselheiro acaba trazendo isto para si, dentro de um cenário que favorece um messianismo popular, então sua figura concentrou o poder político, econômico e religioso″, relata o pároco. Daqui se pode dizer que o resto é história da guerra.  

 

No dia 5 de outubro de 1897 terminava a Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos.

 

Porém, um dia antes, no distrito de Bendegó, Dom Guido encontra dona Francisca, e ao contar da sua vida, a velhinha, de 96 anos, chora lembrando os cadáveres levados pelas águas da barragem, e as palavras que escapam de sua boca são: ‘fome, muita fome’.

Eis por essa estrada um caminho pastoral que deve levar em consideração todo aspecto social e cultural, mas que precisa responder às necessidades do povo agora para construir um futuro melhor.

Ivone Lima, correspondente.

 

A Igreja  

  

 ″Nós olhamos para o passado para ver melhor o presente, e preparar o futuro, quando eu penso nesta segunda Canudos, das águas, qual é a imagem da bíblia que eu tenho?, é justamente – guardadas as diferenças – quando o povo de Israel atravessou o Mar Vermelho e o Egito ficou para trás. Claro que a questão é diferente, porque aqui ninguém era escravo, e a primeira Canudos era a moradia de vocês e de tantas famílias, mas o fato aconteceu. Às vezes nós ficamos lembrando as coisas como se hebreus lembravam e tinham saudade da cebola do Egito, e ao invés de aceitarmos bem o presente e os desafios, ficavam pensado sempre: ‘ah, como era… ah’, assim como os discípulos de Emaús: ‘ah, como era bom e como Ele também nos traiu’. E de repente Jesus aparece, então na Igreja a memória nos ajuda a olhar os fatos que aconteceram, por piores que tenham sido. Mas onde entra o cristianismo?, que Jesus Cristo veio para nos ajudar a viver bem o presente, na perspectiva do futuro″, disse o bispo.  

Era  8 de março, dia Internacional da Mulher, e elas cantaram assim:

Arraia do Belo Monte, mais de 5 mil casas e uma população estimada em 20 mil pessoas.

 

″/ Eu também sou a imagem do guerreiro/ sou filha de nordestino/ da terra do guerreiro/ mas o meu povo/ com coragem trabalhou/ fizemos belo progresso/ Canudos ressuscitou/ Canudos hoje/ quer viver a sua Glória/ está sentada na página marcada a sua história/″

 

 

Fonte: Ivone Lima- PASCOM – Reproduzida por Ozildo Alves

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